miércoles, 6 de septiembre de 2023

Poeta 693: Simultaneidades de Rodrigo Garcia Lopes

RODRIGO GARCIA LOPES

(Londrina-Brasil, 1965). Poeta, romancista, tradutor, compositor e jornalista. Tem graduação em Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina, Mestrado em Humanidades Interdisciplinares pela Arizona State University e Doutorado em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina. Traduziu Marcial, Rimbaud, Whitman, Sylvia Plath, Laura Riding, o anônimo The seafarer, entre outros. De 2002 a 2015 foi um dos editores da revista Coyote. Em 2001 teve seu “Stanzas in meditation” incluído em Os cem melhores poemas brasileiros do século. O romance policial-histórico O trovador foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura em 2018. Em breve será adaptado para o cinema. O Enigma das Ondas foi publicado no ano passado em Portugal (Officium Lectionis) e na Itália em 2023 (Kolibris Edizione). Poemas coligidos (1983-2020), reunindo sua obra poética até aqui, foi publicado em junho de 2023, pela Kotter. Estúdio Realidade acaba de sair na Itália. O Enigma das Ondas foi publicado no ano passado em Portugal e na Itália em 2023. Poemas coligidos (1983-2020), reunindo sua obra poética até aqui, foi publicado em junho de 2023. Estúdio Realidade acaba de sair na Itália.
 
SIMULTANEIDADES
 
(Español)

Ahora mismo alguien escucha Wagner a todo volumen, frente a los Alpes.

Ahora mismo un terremoto sacude Tokio, y esta línea tiembla.

Ahora mismo un extraterrestre recoge una caracola en una playa de los Mares del Sur.

Ahora mismo un islamista radical se despide de su reflejo en un escaparate de París.

Ahora mismo una pareja de científicos hacen sexo salvaje en un observatorio de Atacama.

Ahora mismo unos altavoces gigantes con himnos patrióticos despiertan a la población de Pyongyang.

Ahora mismo el sonriente y solícito oficial ruso derrama plutonio en la bebida del espía.

Ahora mismo un cura cuchichea al oído de su amante escocesa.

Ahora mismo en la ventana de un hotel de Leblon un hombre se enamora de una paloma.

Ahora mismo en el litoral de Somalia unos piratas atacan un carguero y son rechazados por artillería pesada.

Ahora mismo una foto caída de un libro lleva al cirujano sueco a las lágrimas.

Ahora mismo un Boeing con 330 personas a bordo desaparece sobre el Océano Índico.

Ahora mismo es un lugar que nunca envejece.

Ahora mismo un ejecutivo panameño realiza una transferencia de un billón de dólares a través de Deep Web.

Ahora mismo una mujer solitaria accede a las imágenes de la Estación Espacial Internacional en su giro por la Tierra en tiempo real y se pimpla la segunda botella de vino.

Ahora mismo un geólogo suizo celebra su aniversario en el cráter de un volcán activo.

Ahora mismo un refugiado libio se da cuenta que en aquella patera nadie conseguirá llegar a Nápoles.

Ahora mismo una gimnasta cuelga una selfie mortal en un edificio en Hong Kong.

Ahora mismo un frente frío de desplaza lentamente hacia el punto exacto donde estamos en el mapa: el lenguaje.

Ahora mismo un presidente renuncia y se suicida en directo a través de una red social.

Ahora mismo un asteroide se dirige hacia la Tierra a 72 kilómetros por segundo.

Ahora mismo en Colorado media docena de Papás Noel con equipos de esquí en los hombros bajan corriendo la calle principal de Aspen.

Ahora mismo el hacker se despierta y se ve convertido en un bosque nórdico, en el doble de Hamlet, en una baraja de cartas turca, en un parque de diversiones abandonado.

Ahora mismo en un bar de Manhattan la Belleza le dice al Terror: “Cuando yo termine, tú empiezas.”

Ahora mismo una vieja leona agoniza rodeada de hienas en una sabana africana.

Ahora mismo el sol de casi otoño baña una página blanca.

Ahora mismo una grieta kilométrica se abre en el Antártico.

Ahora mismo un poeta griego inventa una máquina de producir eternidad.

Ahora mismo en un teatro abarrotado en Moscú Anna Fedorova toca el último acorde del Concierto nº 2 de Rachmaninoff.

 

(Portugues)

Agora mesmo alguém escuta Wagner no último volume, os Alpes à frente.

Agora mesmo um terremoto abala Tóquio, e esta linha treme.

Agora mesmo um extraterrestre apanha um búzio numa praia dos Mares do Sul.

Agora mesmo um radical islâmico despede-se de seu reflexo numa vitrine em Paris.

Agora mesmo um casal de cientistas faz sexo selvagem num observatório no Atacama.

Agora mesmo alto-falantes gigantes com hinos patrióticos despertam a população de        

        Pyongyiang.

Agora mesmo o sorridente e solícito oficial russo derrama plutônio no drink do espião.

Agora mesmo um padre conversa ao pé do ouvido com sua amante escocesa.

Agora mesmo na janela de um hotel do Leblon um homem se apaixona por uma pomba.

Agora mesmo no litoral da Somália piratas atacam um navio cargueiro e são

         rechaçados por artilharia pesada.

Agora mesmo uma foto caída de um livro leva o cirurgião sueco às lágrimas.

Agora mesmo um Boeing com 330 pessoas a bordo desaparece sobre o Oceano Índico.

Agora mesmo é um lugar que nunca envelhece.

Agora mesmo um executivo panamenho faz uma transferência de um bilhão de

          dólares pela Deep Web.

Agora mesmo uma mulher solitária acessa as imagens da Estação Espacial

Internacional em seu giro pela Terra em tempo real e mata a segunda garrafa de vinho.

Agora mesmo um geólogo suíço comemora seu aniversário na cratera de um vulcão ativo.

Agora mesmo um refugiado líbio percebe que ninguém naquele bote conseguirá chegar

         em Nápoles.

Agora mesmo uma ginasta posta um selfie mortal num prédio em Hong Kong.

Agora mesmo a frente fria se desloca lenta para o ponto exato onde estamos no mapa: a

        fala.

Agora mesmo um presidente renuncia e se suicida ao vivo numa rede social.

Agora mesmo um asteroide ruma em direção à Terra a 72 quilômetros por segundo.

Agora mesmo no Colorado meia dúzia de Papais Noéis com apetrechos de esqui nos

         ombros descem correndo a rua principal de Aspen.

Agora mesmo o hacker acorda e se vê transformado numa floresta nórdica, no sósia de

        Hamlet, num maço de baralho turco, num parque de diversões abandonado.

Agora mesmo num bar em Manhattan a Beleza diz para o Terror: “Quando eu terminar,

        você começa”.

Agora mesmo uma velha leoa agoniza cercada por hienas numa savana africana.

Agora mesmo o sol de quase outono banha uma página branca.

Agora mesmo uma fissura quilométrica trinca e estala na Antártica.

Agora mesmo um poeta grego inventa uma máquina de produzir eternidade.

Agora mesmo num teatro lotado em Moscou Anna Fedorova toca o último acorde do

          Concerto n.º 2 de Rachmaninoff.

 

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